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Vida e Morte na Pós modernidade

Vida e Morte na Pós modernidade

 

                                 

 

“O Homem é um ser que leva o cadáver nas costas a vida inteira, pois sabe mais do que deve e menos do que precisa”. Luiz Felipe Pondé.

    O Homem é o único ser sobre a terra que tem consciência de sua finitude, o único, a saber, que sua passagem neste mundo é transitória e deve terminar um dia.

    A Morte enquanto fenômeno psicossocial é altamente dinâmica e responsiva às mudanças no espírito do tempo, assumindo diversas representações coletivas nas sociedades ocidentais ao longo da história, conforme nos atesta a ampla documentação efetuada por Ariès, (1977).

    O tema da Morte trás em si um conteúdo psicológico e emocional extenso e difícil de ser abordado de forma breve, não podendo deixar de fora os tópicos mais importantes. A Ansiedade, a Angústia, a Impotência e a Solidão com todos seus sintomas e sensações (perdas, raiva, dúvidas, expectativas, apreensões, sentimento de abandono, inseguranças, vazio existencial, etc.).

    Psicanaliticamente, a morte iminente está fortemente vinculada à castração, pois ela subtrai sua possibilidade de vida. A angústia de castração é decorrente do medo de ser separado de algo extremamente valioso para o indivíduo. Porém, a experiência da morte representa a "castração por excelência", pois é irreversível e incapaz de ser compensada através de substitutos. O EU permanece absolutamente vulnerável e indefeso perante a morte.

   Cada um de nós traz dentro de si sua representação ou interpretação da morte. Sendo assim damos a ela simbolismos, qualidades e formas diversas. Dependendo desta representação é que o homem enfrentará sua própria morte.

    Em nossa prática clínica sentimos que a vivência da proximidade da morte, real ou imaginária, própria ou de entes queridos são as situações mais difíceis de serem elaboradas em psicoterapia. Percebe-se que esta condição humana de impacto com a Finitude vai se tornando presente na mente e no coração dos pacientes, pela associação com a própria possibilidade de separação paciente - analista. O sofrimento pela separação, sobretudo, no final de uma terapia, por alta ou interrupção, são momentos propícios para análise da postura do paciente em relação à morte, traduzidos por culpa, fuga, negação, resistência, regressão, rejeição ou aceitação, etc.

    A morte é uma constante ameaça. É impossível compreendê-la ou mesmo aceitá-la com tranqüilidade. É, segundo Filósofos, Teólogos e Psicólogos, a maior Angústia do ser humano.

   Para grande maioria das pessoas a morte é interpretada como, ruptura, desintegração, situação limite, desespero. No entanto, há quem a veja com certo fascínio (as grandes produções cinematográficas), uma grande viagem (produto de obras literárias), descanso ou alívio (no caso do sofrimento e da dor).

    Em uma sociedade bastante ocupada em descobrir fórmulas de rejuvenescimento e em prolongar a juventude e a beleza, parece claro que não há muito espaço para conversar sobre a morte. A morte traz a dura realidade da limitação biológica: tudo possui um ciclo e o findar é parte desse ciclo.

    Teoricamente a morte é um dos elementos integrantes do ciclo da vida. O indivíduo nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Esse ciclo, até o envelhecimento, para a maioria das pessoas é considerado natural e aceitável, sendo o processo de morte e morrer temido e adiado.

    Foram muitos os biólogos, psicólogos, filósofos, teólogos e antropólogos a investigar sobre este assunto no decorrer da história. De fato, a morte se mostra em diversos olhares. Trata-se de uma pré-ocupação fundamentalmente humana. Na perspectiva organicista, ela pode ser vista como um processo natural e inevitável, ligada a uma programação genética específica para cada espécie de ser vivo em particular. O ser humano é percebido como um material orgânico e, assim sendo, possui um “prazo de validade”. No entanto, este entendimento puramente biológico sobre a morte não parece ser suficiente para o ser humano que busca compreendê-la a partir de suposições que vão aquém e além da sua dimensão física.

    Segundo Fiefel e Nagy (1981), nenhum ser humano está livre do medo da morte, e todos os medos que temos estão de alguma forma, relacionados a ele.

    Enquanto a morte não vem, o medo, enquanto defesa nos faz mergulhar em ocupações, em atividades, trabalho, lazer, falações, contendas para não termos que nos preocupar com ela. Fugimos ou negamos, fazemos de conta que não nos diz respeito.

    Não obstante, a morte trás em si, a dimensão do tempo que nos dá a dimensão da finitude, revelando nossa condição de ser-para-morte.

                                            Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                            Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto