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Aposentadoria: enfrentamento e adaptação

Aposentadoria: enfrentamento e adaptação

                                                                                           

Aposentadoria: enfrentamento e adaptação Dra Edna Paciência Vietta Psicóloga Cognitivo-comportamental

O trabalho é o principal regulador da vida, já que o sujeito organiza seus horários, relacionamentos familiares e sociais em função deste. Neste contexto, a aposentadoria, por representar a ruptura com o papel profissional formal, ao invés de ser vivenciada como um repouso merecido, pode se tornar uma ameaça para o equilíbrio psicológico.

Quando nos apresentamos a alguém nosso trabalho é um importante elemento da nossa identidade. O trabalho é fundamental para a qualidade de vida de todo ser humano. Não menos importante é a preparação do trabalhador para o enfrentamento da fase de aposentadoria. Este preparo consiste na necessidade de continuar participando de todos os âmbitos da vida social e na luta para a efetivação de seus direitos conquistados. O trabalho ocupa um importante espaço na vida humana. As pessoas vivem em função de sua atividade profissional, tanto que uma pergunta mais comum quando se é apresentado uma pessoa é “Onde você trabalha?” ou “O que você faz?” Vivendo em uma cultura que desvaloriza o trabalho, pensando este como uma carga pesada a ser transportada sem retorno, pautada no esforço, renúncia, cansaço, desprazer e exploração e não na possibilidade de crescimento, realização de sonhos, alegria da convivência e satisfação nas soluções de problemas, a tendência é pensar que a possibilidade de deixar de trabalhar possa ser o grande e único caminho da liberdade tão desejada após anos de labuta.

Com visão tão negativa e pessimista sobre o trabalho, o não-trabalho ganha notoriedade e sentidos positivos; não trabalhar pode significar ser livre, autônomo, dono da própria vontade e “senhor de seu próprio tempo”. Acredita-se que o não trabalho liberta o homem dos “castigos” impostos pela obrigatoriedade no cumprimento de horários, expedientes, pontos e de toda a rotina estafante associada ao trabalho; Assim, muitos labutam sem nenhum sentimento de prazer no trabalho que exerce, contando dias e horas para a tão esperada aposentadoria. É lógico que o sistema, muitas vezes, imposto pela cobrança intensificado continuamente por resultados, muitas vezes impossíveis de serem alcançados de forma ética e moral, acaba por reforçar esta conotação cruel do trabalho e o desejo de que chegue logo o dia em que se livrará de tal incomodo. No entanto, é comum que depois de aposentado algumas pessoas sintam-se perdidas, sem saber o que fazer. A falta de atividades e o tempo ocioso podem trazer incômodo, vergonha e constrangimento para quem teve uma vida produtiva podendo levar à depressão, isolamento, solidão e a outros sintomas associados.

Cavalcanti (1995) afirmou que o trabalho muitas vezes representa “realização pessoal, elevando a auto-estima do sujeito devido ao reconhecimento social e à auto-imagem positiva originada a partir de bom desempenho profissional”. O afastamento do trabalho provocado pela aposentadoria talvez seja uma das perdas mais relevantes na vida das pessoas. Além de perdas materiais que geralmente ocorrem em função da diminuição da renda, há perdas sociais e psicológicas importantes que podem afetar a saúde física e mental do aposentado.

O trabalho é bem mais que simples ganha-pão; o trabalho é elemento fundamental na constituição da identidade humana (Codo, Sampaio & Hitomi, 1993; Codo & Sampaio, 1995). Com a aposentadoria, o indivíduo perde a rotina do dia-a-dia do trabalho; a identidade de trabalhador além do afastamento do convívio dos colegas e muitas perdas de vínculos profissionais e pessoais.

Muitos se preparam para a aposentadoria e conseguem logo encontrar um substituto para o trabalho, porém, grande parte dos aposentados vivenciam inicialmente, até euforicamente uma sensação gostosa de férias e depois, um sentimento de vazio; de inutilidade, solidão e, algumas vezes, a depressão (Pacheco, 2002). A pessoa acorda de manhã e já não tem mais para onde ir, acabou seu compromisso, não tem mais obrigações, já não sabe o que fazer. Já não é mais o professor, o mecânico, a enfermeira, o funcionário público, muitas vezes, deixou de ser o líder de um grande equipe, o chefe de uma repartição onde era valorizado. Perde seu poder, seu status sua posição de autoridade. Aos poucos vai se instalando certo empobrecimento das relações sociais podendo trazer repercussões para o funcionamento cognitivo do aposentado e até mesmo o não reconhecimento de si próprio. Há necessidade de adaptação à nova situação. Os colegas de trabalho, subalternos ou chefes fizeram parte da vida dessa pessoa durante a maior parte de suas vidas. É com essas sensações que o aposentado precisa lidar agora. Aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais são parte dessas dimensões inter-relacionadas. A aposentadoria é um período de reestruturação da vida e de valores.

É, também, um direito do trabalhador. Neste momento retoma-se a vida pessoal deixada de lado ou para trás; relacionamento entre cônjuges, filhos, amigos fora do ambiente de trabalho. Normalmente os trabalhadores são tão absorvidos pelo trabalho que acabam deixando suas famílias e amigos em segundo plano.

O momento de aposentadoria pode ser o momento de reflexão e retomada desses vínculos. Por tudo isso, é preciso se preparar para a aposentadoria. Caso já tenha se aposentado, há a possibilidade de buscar ajuda para torna essa

A Psicoterapia é um desses recursos, lugar de encontro e de construção: encontro consigo mesmo, no desvelamento de novas possibilidades de realização de seu viver e a construção de novas maneiras de encarar as diversas situações que vão sendo experienciadas em nosso cotidiano ao longo da nossa existência.

Profa Dra Edna Paciência Vietta Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto

edna_vietta@hotmail.com