Ficção ou Realidade?
Ficção ou realidade?
O que você pretende comprar? Órgãos humanos? (a escolher), caráter? (em falta), a virgindade de alguém? (sem beijo na boca), um sonho? (produto em extinção), amizade? (mencione o interesse), um amor? (artigo de luxo). A loja virtual “Tem de tudo” não falta nada, é só ter dinheiro, coragem, ingenuidade ou muita cara de pau. Absurdo? Não! isso tudo já pode ser adquirido, pasmem os senhores, pela internet. Pode parecer filme de ficção, mas não é. É possível sermos interpretadas como retrógradas ou ultrapassadas. Alguém pode questionar, mas não estamos no século XXI? É preciso evoluir. Como enfrentar o mundo pós-moderno sem adotarmos posturas inovadoras? Há quem chame isso de inovação? Arriscamo-nos a morrer em pé, lutando para preservar nossas tradições. Tudo tem limite. Isso tudo, veio sim, no bojo da tecnologia, mas acreditem... Não é só culpa do desenvolvimento da tecnologia, nem tão pouco apanágio da evolução.
Por que estamos tão vulneráveis aos efeitos colaterais das inovações tecnológicas? Porque tudo isso afeta tanto a essência do ser humano? Não sabemos o que fazer com tudo isso? Há necessidade de maiores esclarecimentos? Informação adequada? Educação específica para sua melhor utilização? De posturas éticas de lideres como exemplos a serem seguidos? Já dissemos em artigo anterior: para esse mal não há remédio, não há vacina, só prevenção, educação e conscientização. Mas, com os governantes que estão aí? Eles mesmos expostos e vulneráveis a praga da corrupção? Pessoas até então consideradas de boa índole, honestas, nacionalistas, hoje na “cadeia” por crimes de corrupção política e formação de quadrilha os quais, outrora, se diziam dispostas a arriscarem a própria vida para salvar o país contra o golpe militar de 64? Deu a louca no mundo? Quando nos disseram que o mundo iria acabar em 2012, achamos graça, mas estamos quase “acreditando” nesta lenda urbana. Se o que estão desabando são a dignidade e a moral do ser humano, não podemos duvidar do caos que assinala o mencionado fim “simbólico” do mundo.
Onde vamos parar? Para onde estamos caminhando? E o que ainda está por vir? A maioria de nós sempre apreciou as tendências à modernidade, à evolução tecnológica, como fenômeno importante e bem vindo em todos os setores da vida moderna pelo conforto, possibilidade de valorização da vida, pelas conseqüentes descobertas da medicina, etc.
Não há como negar que a inovação tecnológica é a grande ferramenta para o crescimento econômico, para os ganhos de eficiência e de competitividade no mundo moderno. Porém, o desenvolvimento de novas tecnologias e seu rápido aperfeiçoamento induziu a população a ficar cada vez mais dependente dessas inovações, aumentando o consumo excessivo de bens, acarretando efeitos de toda ordem. O consumo exacerbado, iniciado na modernidade, afetou sobremaneira a essência da natureza humana, pois criou necessidades que antes não existiam.
Para Bauman (2004), a explicação está no seguinte fato “a modernidade sólida deixa de existir e em seu lugar surge a modernidade líquida. A primeira seria justamente a que tem início com as transformações clássicas e o advento de um conjunto estável de valores e modos de vida cultural e político. Na modernidade líquida tudo é volátil; as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto – familiar, conjugal, de grupos de amigos, de afinidades políticas, e assim por diante – perde consistência e estabilidade".
A visão pós-moderna não prega um único entendimento, mas, sim, propicia diversas interpretações e inúmeras opções e caminhos diferentes a serem percorridos. Questionamentos são necessários e bem vindos, pois não existe uma verdade única o que deve reinar é a liberdade de expressão e de escolha.
É preciso não perder de vista nossos princípios, valores e dignidade. É preciso acreditar na possibilidade do resgate do ser, do eu interior e dos seus desejos.
Parafraseando o Padre Jorge Filipe Teixeira Lopes (Arautos do Evangelho) podemos dizer que, "se neste início de século XXI a dignidade humana está em perigo, isso se deve à ausência de uma visão objetiva e esclarecedora sobre o que é realmente a natureza do homem e quais as suas exigências, para efeitos de um autêntico progresso".
Profa Dra Edna Paciência Vietta
Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto