NORMOSE: perigo social
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Quando um grupo de pessoas, ainda que representado por uma maioria, se reúne para chegar a um consenso, tomar decisões, adotar condutas, nem sempre o resultado obtido pode ser considerado genuíno, verdadeiro, autêntico ou legítimo. Todo acordo que envolve pessoas ou grupos, com certeza, envolverá interesses pessoais implícitos e explícitos, julgamentos de valor, tendências conscientes e inconscientes (manipulações, manobras, poder, vaidades, submissão, ideais, autoritarismo, etc.).
O ato de juntar-se, em torno de “interesses comuns”, tanto pode ser para somar forças, angariar seguidores, dominar ou manipular pessoas, proteger-se de perigos reais ou imaginários, garantir segurança, ou simplesmente por necessidade de aceitação e pertencimento ao grupo e porque não, por simples comodismo. O fato de se tomar decisões em conjunto pode levar a falsa impressão de que o resultado obtido é garantia de comprometimento ou decisões democráticas. Nem sempre isto é verdadeiro, quando analisado pelas razões e conveniências, descobrimos, influências de ideologias, manipulações de informações, infiltração de lideranças tendenciosas, posturas ingênuas e ignorância de integrantes do grupo. É aí onde pode irromper, sustentar e se fortalecer o processo de instalação de regimes totalitários.
Segundo PierreWell, “há entre os humanos, a crença, bastante disseminada em todas as classes sociais”, mesmo, nas mais elitizadas, acadêmicas, de que “tudo o que a maioria pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado normal, verdadeiro, inconteste, correto, legítimo, servindo, muitas vezes, como referência e orientação para o comportamento dos demais”. Isso é crença.
Nesse sentido é sabido que muitas normas e condutas adotadas no passado remoto e na atualidade, próprias das narrativas modernas, construídas sob a égide de consenso de grupos, levaram ao sofrimento moral e físico indivíduos, grupos e coletividades inteiras. Algumas delas com consequências nefastas para espécies vivas, só para citar poucos exemplo: as atrocidades cometidas pelo Regime Nazista, entre 1933 e 1945 – onde teve lugar a maior hecatombe do século XX, a II Guerra Mundial, a destruição de Hiroshima e Nagazaki. Os suicídios em massa de comunidades fanáticas, por exemplo, o episódio ocorrido na Guiana Inglesa, em novembro de 1978 - onde morreram mais de 900 seguidores do Reverendo Jim Jones . A sucessão de sacrifícios humanos nas décadas seguintes. Em abril de 1993, o grupo religioso liderado por David Koresh, Texas – EUA, onde perderam a vida mais de 80 pessoas. Sete anos depois, Uganda-África, dava conta de outra carnificina - cerca de 500 seguidores de Joseph Kibwetere foram levados ao suicídio coletivo. A guerra do Iraque, o fatídico dia de 11 de setembro de 2001 gravado para sempre na memória da humanidade, onde terroristas suicidas – liderados pelo islâmico Osama Bin Laden - sequestraram quatro aeronaves e atacaram os símbolos maiores do poderio militar e econômico norte-americano: o pentágono e as torres gêmeas do World Trade Center, estas últimas no centro financeiro de Nova York, onde perderam a vida cerca 3 mil pessoas.
Outro perigo da banalização e indiferença a certas atitudes corruptas como por exemplo: nepotismo, favorecimento de amigos ou parentes na carreira pública, o sistema de propinas, o tráfico de influência, o mau uso de recursos públicos, abuso de poder, a falta de ética, o “toma-lá-dá-cá” da vida pública e, por aí vai. A mídia nos informa a todo momento, situações de corrupção e o que se ouve é: "não há política sem corrupção", Eu já me convenci "todo político rouba", "o povo está acostumado com a corrupção", "corrupção existe desde Adão e Eva", "Faz parte do sistema" e o que é pior "política é isso", etc. O perigo é tais acontecimentos tornarem-se banais, frequentes, usuais, comuns, familiar, justificáveis. Assim, passa a ser comum, justificável a manutenção de um comportamento imoral. (por exemplo, ser corrupto) por ser comum, "algo que todo mundo faz". Assim, tudo se torna corriqueiro, trivial, comum, banal, ordinário, não provoca mais surpresas, comoção, indignação, perplexidade. Assim, enquanto a maioria de nós se adapta a um ambiente social doente, quem resiste à Normose acaba considerado desajustado, por não obedecer ao estado “normal” das coisas. A normose como processo psicossociológico pode trazer ameaças ao desenvolvimento moral da humanidade, uma vez que o consenso social pode traduzir-se em ilusão coletiva, podendo servir equivocadamente como guia factual do comportamento geral. Um exemplo atual, é o perigo de não nos assustamos mais com a política clientelista praticada abertamente, com empresas fazendo doações milionárias às campanhas políticas com retornos ilícitos imorais, trocas de favores nada republicanos entre executivo e parlamento, Ministros do Judiciário tendo suas passagens e hospedagens pagas por empresas privadas em congressos jurídicos, bilhões de superfaturamento nos estádios da copa, Petrolões, mensalinhos, mensalões etc.
Esse termo assim utilizado serve também, "para designar acomodação diante da realidade de que o hábito nocivo torna-se a norma de consenso aceita por todo mundo ou pela maioria”, com sérias repercussões na Saúde, Educação e Economia de um país. São atitudes desse tipo, a homofobia, o racismo, o sexismo e tantos outros preconceitos. Trabalhar tendo como sistema o cumprimento de metas inalcançáveis tem sido motivo de muito estresse, insatisfação, frustração e mesmo gatilho para o desenvolvimento de muitos transtornos de Ansiedade, compulsões, depressões, e muitos outros desconfortos.
A Normose pode influenciar a saúde do homem e a vida do planeta, atingir nossa saúde, através de hábitos prejudiciais, que por serem comuns, passam a ser considerados normais, como, o tabagismo, o alcoolismo, e outras drogas, compulsões, obesidade mórbida, Anorexia, a Vigorexia, o consumismo, a perda da singularidade pela adoção de padrões estipulados pela mídia, a baixa autoestima, etc.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto
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