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"Carpe diem"

"Carpe diem"

                                             

                                                                                       “Carpe diem”

A pós-modernidade parece marcada pela falta de limites, as pessoas sentem-se livres para agir de acordo com o que pensam, desejam e querem, há tendência a buscar prazer e satisfação no imediatismo em tudo e sempre, numa despreocupação com a duração das coisas. O que vale é o prazer imediato. Ou seja, tudo o que se faz é pensando no agora, sem discernimento, sem se importar ou refletir sobre o depois, as conseqüência, o futuro pouco importa.

Imediato é o mesmo que repentino, sem planejamento, instantâneo, impulsivo, é o “comer cru e quente”, o não ter paciência, não saber esperar mesmo sabendo que a espera pode trazer lhe maior proveito, mais benefícios, maior vantagens.

O imediatista não admite frustração, quer tudo para ontem. Para ele a satisfação não tem limites. É a metáfora da criança que prefere ganhar um pedaço de chocolate a esperar por uma barra toda, o que revela sua imaturidade. Esta supervalorização do presente produz a permanente busca por prazeres momentâneos, transitórios, fugazes.

Neste contexto “Carpe diem” significa equivocadamente vencer na vida o mais rápido possível e conquistar o direito de usar o tempo da forma que se deseja, sem ter que fazer nada por obrigação ou necessidade, somente por motivação, vontade e prazer. Na verdade, isso é Hedonismo exacerbado, pois nem o Hedonismo de Epicuro, também, muitas vezes, mal interpretado, se traduz a tendência a buscar o prazer imediato, individual, como única e possível forma de vida moral, evitando tudo o que possa ser desagradável de forma irresponsável

Para Epicuro o prazer da vida exigiria autocontrole e temperança. Para o epicurismo, o prazer deve ser buscado de modo prudente. A felicidade pelo prazer só é real, se o homem que a busca se tornar sereno. A serenidade da alma não pode ser alcançada caso o homem se entregue inteiramente às suas paixões, pois são prazeres efêmeros que logo acabam e, desse modo, deixam sofrimento em seu lugar. Por isso, Epicuro os chamou de “prazeres momentâneos", em contraste com os “prazeres estáveis” que deveriam ser buscados. Esses prazeres estáveis nada mais são que ausência de perturbação e dor. Um exemplo: saciar a fome é um prazer estável, que Epicuro persegue e defende. Esbanjar-se num banquete de desperdício é um prazer momentâneo e, por isso mesmo, perigoso, já que dele pode advir males piores. Nada mais enganoso, portanto, do que a visão deturpada de que o epicurismo seria uma doutrina de devassos.

Como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o hedonismo exacerbado da sociedade contemporânea, inebriada pelo consumo e pelo culto à juventude, pode nos levar a uma vida "leviana e descompromissada com a história".

No entanto, “Carpe diem” tem outro significado e outras estratégias como a de se aproveitar a vida, no sentido de desfrutar o momento presente. Desfrutar o momento presente e não só obter prazeres momentâneos. E nessa conotação que entendemos "Carpe diem".

“Carpe diem” é uma expressão latina que significa colher o dia, aproveitar o momento. O termo foi usado pelo Poeta Latino Horácio (65 a.C) que na linha do Epicurismo, exortou sua amiga Leuconoe a aproveitar o presente, antes que este se tornasse passado, já que a vida é breve, a beleza perecível e a morte certa. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro.

“Carpe diem” tem sido interpretado de forma equivocada como significando apenas aproveitar o dia enquanto seu verdadeiro significado é mais amplo, ou seja, o de desfrutar a vida em todos os momentos e em todos os sentidos, de forma consciente e responsável.

Marcelo Bulhões, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp, considera que “carpe diem” evoca questões atemporais e universais: "É a fruição da existência humana". À revelia das pressões modernas, com o isolamento de uma sociedade consumista, workaholic e ensimesmada nas metrópoles cinzas, acredita que ainda há espaço para uma abertura às gratificações do efêmero: uma caminhada sem destino, o pastel na feira, as cores únicas do céu no pôr do sol... Para ele, tais gratificações são puro “carpe diem".

                                                                                              Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                                                Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto