DISTIMIA: mau-humor pode ser doença
Descrita pela primeira vez nos anos 80, a DISTIMIA foi reconhecida pela medicina como uma forma crônica e atípica de depressão. O portador de Distimia passa, às vezes, a vida toda sendo considerado pelos outros como sendo “baixo astral”, melancólico, mal-humorado, carrancudo, ranzinza.
Existem muitos motivos que levam as pessoas a passar o dia de mau humor, mal atendimento, filas que não andam, transito engarrafado. Até ai, tudo bem. O problema é quando este estado de espírito se prolonga por muito tempo e se torna crônico sem motivos aparentes. Nesse caso, podem não se tratar de pessoa apenas mal-humorada, mas alguém portador de um transtorno chamado Distimia. Os sintomas da distimia são mais leves e menos severos que a depressão maior, porém mais persistentes e duráveis.
Distímicos são pessoas que não têm muita tolerância para com as imperfeições dos outros. Possuem baixa auto-estima e são extremamente autocríticas, têm habilidades sociais pouco desenvolvidas, podendo se prejudicar pelas dificuldades de relacionamentos com colegas de escola, de trabalho, familiares, namorados, companheiros ou cônjuge. Dado seus comportamentos negativistas, rígidos, ranzinzas, acabam recebendo tratamento pejorativo, refletindo em estímulos negativos e reforçando, ainda mais, sua visão negativa do mundo.
Várias são as causas deste transtorno, entre elas, podemos citar: relacionamentos familiares complicados na infância; pais abusivos, agressivos, ausentes, distímicos. Em famílias que tenham mais membros que sofram de Depressão, Pânico, e outros distúrbios que interferem no metabolismo de certas substâncias cerebrais, abuso de álcool, tranquilizante e/ou drogas ilícitas, reações de estresse extremo, etc.
O distímico só enxerga o lado negativo do mundo, são sistemáticos, é o tipo de pessoa que não manifesta alegria por muito tempo, que se queixa da sogra, do chefe, do cachorro, do vizinho. Aborrecem-se quando chove, faz sol, calor, frio, da rotina, enfim é um eterno insatisfeito. Tudo é motivo para reclamação, nervosismo e irritação. Essas pessoas são hipersensíveis e se ofendem com muita facilidade, parecem sempre tensas, contidas, na defensiva, de difícil relacionamento. Reconhecem sua inconveniência quanto à rejeição social, mas não conseguem se controlar. Suas reações são imprevisíveis. Nunca se sabe como agir com elas, daí serem muitas vezes rejeitadas evitadas. Não se sentem doentes, mas sim, prejudicadas, rejeitadas, incompreendidas, injustiçadas. A desculpa recai sempre no ambiente, nas pessoas a sua volta, nas circunstâncias, etc. É comum, a queixa vir de um cônjuge, namorado, ou familiar, geralmente por afetá-lo, ou ser parte de seu problema (conviver com pessoa distímica).
O distímico é bastante resistente a tratamento, só buscando ajuda quando sua depressão passa a incomodá-lo, o que geralmente acontece quando esta, já se tornou cônica. São pessoas que superestimam os aspectos negativos dos acontecimentos. Qualquer tarefa será sempre considerada sobrecarga, e qualquer desentendimento um “cavalo de batalha”. Tudo é feito por obrigação, nada por prazer. O sentimento de infelicidade o domina o tempo todo. Vivem irritadas, às vezes, fazem grosserias, magoando ou ofendendo pessoas, brigando por qualquer motivo.
A pessoa distímica passa a maior parte do dia de mau-humor (ou humor deprimido), além disso, pode sentir cansaço, baixa energia, desânimo, preocupação excessiva, insônia ou sonolência, falta ou excesso de apetite, sensação de inadequação, queixas físicas (náusea, vômito, cefaleia, enxaqueca), dificuldade em tomar decisões, falta de concentração, etc. Como os sintomas são relativamente atípicos, a DISTIMIA pode ser confundida com um traço de personalidade, ou natureza da pessoa. O fato de ser confundida com esse traço acaba retardando seu diagnóstico e consequentemente agravando seu prognóstico. Por esse motivo, muitos distímicos o são a vida toda.
Embora, trata-se de depressão leve, isso não significa ser menos grave, já que estas pessoas apresentam sofrimento razoável, sentem-se rejeitadas, deslocadas, além de correrem 30% mais riscos de desenvolverem quadros depressivos graves, como Transtorno de Pânico, Dependência de álcool e drogas ilícitas, idéias suicidas, daí ser sempre prudente consultar um especialista. Este transtorno atinge pelo menos 180 milhões de pessoas no mundo e 5% da população geral ao longo da vida, acometendo duas a três vezes mais mulheres do que homens.
Normalmente, os sintomas aparecem no início da vida adulta perdurando por vários anos, às vezes, a vida toda. Quando não tratada, a depressão interfere de modo significativo na qualidade de vida das pessoas.
No idoso é comum a presença de Distimia e seus sintomas característicos (desânimo, desmotivação, irritabilidade), serem subestimados e confundidos com mau humor, teimosias, obstinação, grosseria , rabugice.
A diferença entre o distímico e outros mal-humorados é que os últimos reclamam de um problema, mas mudam de humor quando obtém a solução, enquanto o distímico, segue procurando justificativas para continuar mal-humorado. É bom esclarecer que nem todo mal-humorado pode ser considerado distímico. Só podemos afirmar que mau-humor é doença quando estiver acompanhado dos sintomas mencionados e for percebido de forma constante por longo tempo. É importante saber que o distímico não consegue se curar sozinho. A boa notícia é que a doença tem cura quando adequadamente tratada.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Cognitivo-comportamental
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