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Sogra e o Imaginário Popular

Sogra e o Imaginário Popular

 

                                                

     Sabemos que o tema sobre sogra é pauta para os mais ardentes debates e carrega um sentido pejorativo no imaginário popular. Há sempre queixa velada ou explícita da interferência desta figura pautada no estereótipo de megera. Como psicóloga, tenho procurado entender que fatores intervenientes estão por trás dessa complexa relação de antipatia.

     Entre um casal que se relaciona, existe um sistema de valores e uma cultura própria que cada indivíduo, traz consigo de sua família. A educação, a formação, as crenças, nível de instrução, interesses, geralmente diferentes, sendo esses, fatores conflitantes para uma boa convivência. Há, já pairando no ar, mesmo antes de um casal firmar qualquer compromisso, certas referências sobre a expectativa negativa dessa convivência, certa predisposição à rejeição. A sogra carrega um estereótipo que geralmente suscita piadas, brincadeiras, gozações e comentários jocosos.    A forma preconceituosa como é vista essa relação pode dificultar o estabelecimento de vínculos entre sogra e nora e conflitos entre casais. As mães querem sempre ter o privilégio da última palavra na escolha da (o) companheiro (a) do filho (a), são elas que consciente ou inconscientemente estabelecem critérios para essa escolha.

     Segundo Freud se faz possível dois tipos de escolha objetal, a saber: a anaclítica ou de apoio, ou narcísica. A primeira diz respeito ao fato de que os objetos das pulsões do ego se tornarão objetos da libido, ou seja, a escolha se apóia no processo da autoconservação, conduzindo para certo objeto tendo como referência, figuras parentais: pais ou substitutos. A segunda se refere a uma escolha de objeto semelhante ao próprio sujeito, ao que ele foi ou desejou ser.

     Quando a mãe tem uma forte relação de dependência com o filho ou filha, experimenta o casamento destes como uma perda afetiva muito grande e, esta, facilmente se transforma em rejeição, repulsa ou ciúme para com a nora ou genro, que é quem lhes “rouba” a prole. Pode surgir, a tendência, ás vezes, inconsciente, de criticar a nora ou o genro, colocando-se numa posição privilegiada de confidente perante o filho ou filha. É uma forma de se colocar como a pessoa única em quem o filho ou a filha pode continuar confiando.

     Outro fator que pode influenciar a relação sogra-nora é a chegada de um filho/neto, pois a partir desse momento existe mais um ser a ser disputado por ambas. A sogra parece ser sempre sentida como uma ameaça em relação ao amor do filho/neto.

     Devido a todos os fatores que envolvem a relação sogra-nora, são inúmeros os sentimentos desencadeados nessa ligação, como por exemplo: ciúme, inveja, raiva, tristeza, insegurança, amizade, amor, carinho, respeito, entre outros.

     O papel do marido/filho é fundamental no desenvolvimento da relação sogra/nora. Cabe a ele separar o amor de mãe do amor de esposa, colocando ambas nos seus devidos lugares. O mesmo se dá com relação esposa/filha.

     As queixas freqüentes, que mais identifico no consultório, são: a sogra que chega à casa do filho (ou filha) e age como se estivesse na própria casa. Invade a cozinha, interfere na arrumação e na limpeza da casa, na lavagem e organização das roupas, na escolha da alimentação. Aquela que abre os armários, “sugere” mudanças, quer saber a razão do filho/filha estar aborrecido ou triste, curiosa em saber sobre a vida particular do casal, sobre as condições financeiras e aquisições do casal, críticas sobre consumo e economia doméstica; aquela que compete com a nora: numa clara disputa entre quem é a mais sedutora. Aquela que vive doente e/ou solitária, queixosa, carente, dada à chantagem emocional. Sogra desagregadora: aquela que se torna cúmplice da nora, que fala mal e que só aponta as características negativas do filho/filha, insuflando o genro ou nora contra seu par numa tentativa, ás vezes inconsciente de mostrar ao filho que só ela o ama, apesar dos defeitos. Aquelas que intrometem na educação dos netos.

     Apesar dos inúmeros conflitos a relação sogra/nora, pode ser administrada de forma saudável. Isto ocorre à medida que ambas amadurecem emocionalmente e passam a compreender-se mutuamente, conscientizando-se que não precisam competir, uma vez que cada uma exerce um papel diferente. Este é, no nosso entender, o grande desafio para a contínua construção desta relação.

                                         Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                                Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto