Depressão: um transtorno afetivo
Por Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Depressão é um Transtorno Afetivo (ou do Humor), caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com conseqüentes alterações na maneira de valorizar a realidade e a vida. Se a depressão é uma doença afetiva é importante saber o que se entende por afeto? Afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir e perceber a realidade.
Afetividade é, portanto, a parte psíquica responsável pelo significado sentimental de tudo aquilo que vivemos. Se as coisas que vivenciamos estão sendo agradáveis, prazerosas, sofríveis, angustiantes, se causam medo ou pânico, se dão satisfação, prazer, etc. Todos esses valores são atribuídos pela nossa afetividade. É através do Afeto que o mundo no qual vivemos chega até nossa consciência com o significado emocional que tem para nós. A depressão é uma doença que envolve nossa afetividade com repercussão no organismo todo, comprometendo o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento de seu portador. Ela altera a maneira como a pessoa vê o mundo, como percebe a realidade, como interpreta as coisas, como manifesta e interpreta suas emoções e como manifesta disposição e o prazer pela a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta, como dorme, como se sente em relação a si próprio, com o ambiente em que vive e as pessoas ao seu redor.
A Depressão é, portanto, uma doença afetiva ou do humor, e não simplesmente estar na "fossa" ou em "baixo astral" passageiro. A depressão é muito complexa e difícil de ser diagnosticada, pois um dos seus principais sintomas pode ser confundido com tristeza, apatia, preguiça, irresponsabilidade e em casos crônicos como fraqueza ou falha de caráter. Não é falta de pensamentos positivos ou de condições que possam ser superadas apenas pela força de vontade ou decisão.
A Depressão, de um modo geral, resulta numa apatia geral, afetando a parte psíquica, as funções mais importantes da mente humana, como a memória, o raciocínio, a criatividade, vontade, o amor e o sexo. Assim, tudo parece ser difícil, problemático e cansativo para o deprimido.
O paciente com depressão apresenta variação de humor e de comportamento, perda de interesse pelas atividades diárias, tristeza, permanente desânimo, ansiedade e irritabilidade. Além disso, torna-se pessimista e apresenta dificuldade para tomar decisões. Também sofre alterações fisiológicas, como cansaço, diminuição da libido, insônia ou excesso de sono, perda ou aumento de apetite, distúrbios digestivos, falta de memória, redução de concentração e da capacidade produtiva.
Diante deste quadro é possível entender o sofrimento da pessoa deprimida, todo seu desespero em muitas vezes não ser compreendida em suas queixas, como se a pessoa deprimida pudesse por si só controlar seus sintomas por esforço ou decisão. Da mesma forma, como cada um de nós reage diferente aos sentimentos, cada um terá uma maneira pessoal de manifestar sua Depressão. Há pessoas que ficam caladas diante das suas preocupações, outras choram, outras contam suas dificuldades para todo mundo, outras sentem dor de estômago, alguns têm aumento da pressão arterial, se tornam queixosas, pessimistas, irritáveis, mau humoradas enfim, cada um reagirá diferentemente diante de suas emoções.
Na Depressão Típica falta energia para tolerar e conviver com o próximo, falta tolerância para aceitar o jeito de ser dos outros, falta ânimo para resolver problemas da vida, falta otimismo para acreditar que as coisas estão bem.
Ainda não são conhecidas todas as causas da Depressão, porém, pesquisas nessa área sugerem fortemente influências bioquímicas importantes para a regulação de nosso estado afetivo, além da influência de fatores genêticos e não apenas a conseqüência de experiências de vida atuais ou do passado, como se pensava antes.
A depressão envolve, também, um mal funcionamento cerebral, um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores responsáveis pelo controle do estado de humor.
O tratamento da depressão é, portanto, e natureza medicamentosa e psicoterápica. Através desta última ajuda-se a pessoa a conhecer e a lidar melhor com seus sentimentos e emoções. Através desse autoconhecimento é esperado que a pessoa passe a melhorar sua relação com a realidade e consigo mesma.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Cognitivo-comportamental R ibeirão Preto